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sábado, 20 de junho de 2015

Brincar aos Futebóis



O menino, de fuças para a parede de vidros coloridos, birrento e mimado, a chorar ao canto, depois do fim de algumas brincadeiras. Aquela que ele adorarava, emprestar seis, sete ou oito brinquedos (+ o Niko tele comandado!) a um só menino, como em tempos o puto mimado fez ao chavalo da casa lá de baixo, do fim da rua. Sabemos que te educamos mal e que passaste assim toda a infância, agora continuas a poder emprestar sim, mas com cabecinha, dizem os papás. E os outros já nem precisam de dizer que, no fim de semana que os visitas, as pilhas dos carrinhos emprestados se gastaram, mesmo que compradas uns dias antes na mercearia do Sr. Luís.

Eis então que o menino betinho, filho de pais ricos, decide reclamar do jardim da casa do vizinho. Diz que lhe queima os joelhinhos, esfola as mãos e arranha os cotovelos. Que a brincadeira é feia e só no final começa a ter alguma piada. Os pais do vizinho ajudam a explicar que a ferida que teima em curar foi da queda no terraço lá de casa. Mas o menino continua no choro desenfreado, e os papás não tem outra solução: impedir brincadeiras na casa do vizinho, enquanto o inquilino não fizer obras.
A empresa de condomínio, abastada e preocupada com os seus mais importantes clientes, paga a mudança do piso. As obras da derrocada que provocaram, que obrigou os moradores a viver no barraco alguns anos, tem tempo. O piso não. Porque queima os joelhinhos. Os médicos dizem que não, mas as queimaduras estão lá e há que fazer alguma coisa.

Para o vizinho isto pode ser muito importante, mas para nós, que pagamos mais condomínio graças ao T8, salão de jogos e piscina privativa, é só um pormenor que queremos ver resolvido o mais depressa possível. Mas queremos mesmo. E não é daqui a um ano ou dois. É amanhã.

Vergonha.

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