Páginas

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Estado de Emergência


Começando pelo jogo de ontem: foi mau perder num momento em que estamos tão necessitados de pontos. Mas houve algo pior que a mera derrota perante a melhor equipa da Liga: a forma como fomos derrotados. Deu ideia que já o estávamos antes de o sermos no campo. Pior: algo que tem sido habitual. Zero de revolta, de novo.

Estrategicamente, falhamos. Quer dizer, falhamos em tudo, mas a forma como abordamos o jogo não resultou.
Houve, claro, algo muito condicionante: o ter que alterar o eixo defensivo. Se os habituais titulares não tem sido eficazes no principal propósito, imagine-se as segundas e terceiras opções. No fundo, a história da manta: tapamos aqui e aconchegamos ali, mas iremos destapar acolá. Não dá para um bocadinho, quanto mais para tudo.

Dois contra três na primeira pressão possibilitou toda a liberdade a Coates, apto a ligar em zonas adiantadas, espaço onde demos, sempre ou quase, demasiado tempo e espaço; a ausência de alas deixou Porro e Nuno Mendes à vontade para por aí desequilibrarem (e sabemos como são fortes); verdade que a opção a 6 de João Mário nos complicou, mas nós abrimos caminho para isso, simplesmente porque não soubemos anular o imenso espaço entre linhas. O caos (de novo, batendo na tecla do espaço) na linha mais recuada fez o resto: seria uma questão de tempo até o adversário criar lances de perigo.

Como disse, tudo para proteger o frágil eixo defensivo. Tecnicamente, pouco condenável a opção apesar de não ter resultado. Diria: não tinha como resultar.

0-2 foi lisonjeiro. 

◾ Mais globalmente falando: repetindo o que por aqui já se abordou várias vezes: o plantel, mais que curto ou com falta de qualidade, é desequilibrado. Temos demasiada inexperiência, muitos jogadores com potencial mas a necessitarem de crescer neste patamar, e poucas, muito poucas opções válidas, principalmente ofensivas. Basta atentar que, precisando mexer no ataque ao adversário, invariavelmente trocam-se os laterais...
Pior: muito embora os sinais, que nós todos queremos encarar como positivos e encorajadores (p.ex., aquela postura em Tondela após os 2 vermelhos), a verdade é que o grupo, demasiadas vezes, não mostra união, não mostra espírito de Equipa, revolta pela péssima classificação, pelos resultados. Por vezes, parece denotar egoísmo individual, cada um por si para daí colher os louros. Posso estar enganado, mas a falta de entendimento coletivo - neste caso, com bola - faz crer nisso mesmo.

◾ A comunicação. Claro, ninguém aqui pede um comunicado por cada mau resultado ou um esclarecimento público de cada vez que surge um problema. Mas há limites e, claro, temos que atentar ao contexto específico do nosso Clube: os Adeptos são exigentes e exigem explicações, estar minimamente informados, principalmente quando as coisas correm mal.
Primeiro, separando as águas: ao nível da imagem, melhoramos 500%, não há dúvidas. Na comunicação, na forma como ela é feita. No conteúdo ou mesmo falta dele, o caso muda de figura. 
Pegando no exemplo dos sub23, um projeto aliciante e, creio, de grande mais valia para o Clube. Mas faz sentido chegarmos à primeira jornada do campeonato sem sabermos quem é o treinador? Tem lógica substituir o comando técnico sem existir uma única informação via Clube acerca disso? Entram e saiem jogadores e nós, Adeptos, nem sabemos quem eles são? Fica ao critério de cada um.

E sim, mesmo sem exageros a explicar as atitudes ou preocupações, faria sentido aparecer e ter oportunidade para desanuviar um pouco o ambiente. Por exemplo, uma boa oportunidade para percebermos o que vai na cabeça dos responsáveis seria na apresentação do Juninho. O video é porreiro, o jogador foi bem sacado, mas uma apresentação na sala de imprensa e explicando um pouco a postura do Clube neste mercado, seria assim tão descabido? 

◾ O caso agrava-se quando todos percebemos, ou temos essa convicção, que é mesmo preciso corrigir os erros cometidos no planeamento da época. A mudança, ainda que temporária, de paradigma nas aquisições é, opinião pessoal, quase obrigatória. É necessário acrescentar experiência, qualidade, jogadores que sejam mais valias para o grupo, mesmo para o próprio grupo sentir isso. 
Temos dados que nos indicam que o caminho ou a vontade vai nesse sentido? Zero. Nenhuns. Só fé. 

◾ Os mais otimistas dirão que estamos a poucos pontos do meio da tabela e que com duas ou três vitórias isto vai ao sítio. Pois, em parte concordo, mas, primeiro, é preciso chegarem essas vitórias e é preciso sentirmos que o caminho é mesmo diferente e será o certo. Porque "duas vitórias" não chegam, é preciso mais. É preciso identidade  para tornar as vitórias sólidas e consequentes.
Por último, é evidente que é preciso reagir. Pegando no exemplo de épocas atrás (tempos de Sanchez), em que nos encontrávamos em últimos, ainda mais distantes do respiro saudável. Relembro, houve duas coisas que nos 'safaram': os reforços, que vieram acrescentar qualidade e opções à Equipa e Adeptos, que catapultaram o grupo para níveis anímicos que, arrisco a dizer, só nós (lembram-se Paços ou da partida para a Madeira?).
Bem, este ano não há Adeptos onde mais são precisos, os movimentos, as hashtags e os vídeos são espetaculares mas estão longe do calor humano que se pretende para poder mexer com o sentimento ou vontade dos jogadores. Não havendo isso, está difícil de ver onde temos mesmo que apostar?

◾ Na falta de pão, todos ralham e é raro aquele que tem razão. Incluo-me nesse lote, sem problemas. Mas preocupa, e muito, a falta de atitude 'à Boavista' que, aqui e ali, se vai sentindo. Claro, podemos estar a ser influenciados pela prestação da Equipa de Futebol sénior mas... faz preocupar quem ama o Símbolo, como todos nós. 

É preciso, mantendo a União, reagir. Pelo Boavista!


Força Boavista!

Sem comentários:

Enviar um comentário