Páginas

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O Regresso da Taça e o 4-4-2



Hugo Monteiro e Grzelak, Bessa ante o Nacional, oitavos de final. Agora segurem-se: 10 de fevereiro de 2007, data da nossa última vitória para a Taça de Portugal. Quase 9 anos, portanto...

Posto isto, é o que fica de mais positivo depois da partida de domingo, em Loures: a passagem de uma eliminatória da Prova Raínha. Rumo à Sexta!


Não fizemos um jogo conseguido, longe disso. Sobretudo, distantes do adversário numa característica que por vezes faz a diferença neste tipo de desafios: a motivação. Do lado deles, estádio(!) à pinha, mouraria na bancada, compreensivelmente jogo do ano para jogadores e treinador adversários; do nosso lado, a obrigação de passar em frente, não só pela diferença de estatuto e orgulho no Símbolo, mas também pelo recente amargo de Vila da Feira. Duas seguidas, sem tirar, pode ser... custoso.

A verdade é que complicamos a tarefa, não só pela apatia que demonstramos no tempo regulamentar (excetuando a boa entrada no jogo, criando uma oportunidade no segundo minuto), também pela falta de fluidez no nosso jogo, revelando muitas dificuldades em circular a bola e assumir o controle das operações, em encostar o adversário às cordas, em nos sentirmos confortáveis (mesmo defensivamente) com o desenrolar da partida. Podemos dizer que tivemos a sorte do jogo: beneficiamos de um erro não forçado que nos permitiu a superioridade numérica (e jogar a meia hora final com mais artilharia na frente), não nos livramos de duas oportunidades para o adversário, já no prolongamento, uma das quais ainda com o desafio empatado.

Individualmente e pela positiva, bom jogo do regressado à lateral Correia, dos que mais 'espicaçou' o jogo da equipa, mesmo em terrenos mais adiantados. Bem também nas bolas paradas, incluíndo no lance que nos valeu o apuramento.
Entrada de Uchebo revelou-se decisiva: mexeu com o ataque, criou perigo e fabricou o primeiro golo. Rendeu Rivaldinho, que pouco produziu, emparedado nos centrais adversários, poucos lances de área (ou sequer perto dela) para mostrar algum serviço.
Renato Santos, que se estreou a titular, também revelou dificuldades para se tornar consequente. Começou na ala esquerda, foi alternando com Luisinho, raramente conseguiu ganhar a linha ou fazer a diferença mais no centro do terreno. Um remate perigoso (além da oportunidade desperdiçada logo no início) foi o melhor que conseguiu. Fisicamente pode melhorar, talvez fruto de alguns meses sem competição.

Resumindo, como se disse no início da crónica, de positivo fica a passagem à 4ª eliminatória da Taça. Ficam também sinais que é preciso melhorar, sobretudo a circulação de bola, as decisões (soluções?) no último terço, a capacidade de saír rápido - e bem - para o ataque.




Alguns bitaites, retomando o pulso depois de duas semanas de ausência forçada.

O 4-4-2.

Mudamos no jogo com o sporting, deixamos o habitual 4231 para jogarmos com uma linha de quatro no meio campo, perto do quarteto defensivo, deixando dois avançados na frente, Luisinho e Zé. À dupla defensiva Idriss/Reuben juntou-se Tengarrinha na direita e Correia na esquerda. A força do adversário pedia isso mesmo, pouco risco, linhas recuadas e tentativa de saír a jogar - por vezes de forma mais direta - com os dois homens mais adiantados e aposta forte nas bolas paradas. Abordagem acertada, ponto precioso, jogo positivo.
A exibição foi convincente, fomos compactos e seguros defensivamente, beneficiando também do acerto da [recém-formada] dupla Henrique e Vinicius, mais recuados e posicionais que o habitual, menos expostos (dada a dupla de cobertura, o que beneficiou, em particular, o jogo - e qualidade - de Vinicius).

Na semana seguinte, algo surpreendentemente, Petit aborda o desafio de forma semelhante. Apesar do resultado negativo (dez segundos podem fazer toda a diferença no que à análise e crítica destrutiva diz respeito...), o comportamento da equipa foi positivo. Controlamos as operações, permitimos poucas oportunidades de finalização ao adversário, confortáveis, esticamos mais e melhor o jogo que no desafio anterior. O mesmo meio campo revelou melhor entendimento e maior flexibilidade, tanto a trocar e compensar posições sem bola, como nas saídas para o ataque, denotando-se aí o mesmo problema que nos vai assolando nos últimos tempos: a definição das jogadas no último terço, mesmo conseguindo espaço e tempo para poder fazer melhor.
Facto curioso: mudamos para o 433 a cinco minutos do final, com a entrada de Carvalho para o lugar de um dos alas. Pouco depois, dobra de Reuben na direita, num dos raros desposicionamentos da dupla em todo o desafio, provocando o desequilíbrio na zona central, surgindo o golo...
Em suma, depois de Vila do Conde, sinais que esta nova abordagem tem pernas para andar.

Em Loures, voltamos a apresentar o mesmo sistema, mas com uma dinâmica diferente, o que pode ser um sinal que a mudança não foi pontual, dando ideia de uma tentativa de melhor adaptar a identidade da equipa às caraterísticas dos jogadores que Petit tem à disposição. Os dois médios ala mais ofensivos (Luisinho e Renato na vez de Correia e Tenga), dois avançados (Zé mais móvel, recuando para o meio campo e provocando superioridade nas alas), mantendo-se a dupla de cobertura Idriss/Reuben. Ou seja, 442 sem bola, dois médios e quatro homens ofensivos com bola. Parece-me óbvio, evidenciamos problemas, já que tivemos que assumir favoritismo e maior controle das operações, não conseguindo fluidez na posse de bola. Neste aspeto, minha opinião, as dificuldades acrescem com a dupla média utilizada, Idriss e Reuben. Ambos fazem da capacidade física e de desarme a sua principal arma, úteis no que à proteção ao eixo central diz respeito, ambos com enorme dificuldade para contruibuírem positivamente para a circulação de bola, assim como pouco aptos para o lançamento do ataque. Já houve desafios (pré-época e, mais recentemente, com o Paços no Bessa) em que ambos 'pegaram' bem no nosso miolo, transportaram a equipa para a frente, apareceram a propósito em zonas de finalização; mas não com esta abordagem, não com estes alas, não com dupla de avançados, não com tanta preocupação em não saír da posição central.



Olhando para o plantel e opções, pode fazer sentido esta tentativa de Petit. Senão vejamos:
- Todas as saídas - seja dos defesas e avançados - foram bem colmatadas, diria mesmo que em todas as mudanças ficamos a ganhar. Menos numa: a do médio não-só-defensivo, a do Cech. Saíu o eslovaco, entrou ninguém. Em teoria, reentrou o Ancelmo... Diego Lima foi aposta máxima, tanto nos últimos desafios da época passada, nos particulares desta pré-época, nos primeiros jogos do campeonato. E caíu. Desapareceu. É curto, pergunta-se se alguma vez não o será. Ficamos sem um único médio com alguma capacidade de desequilíbrio no último terço. O Renato, desenganem-se, será extremo, quanto muito. Ora, com dois avançados, haverá menor necessidade de jogar com um terceiro médio, atrás do avançado, no típico e habitual 433.
- Ponto forte do nosso plantel, as laterais. Afonso/Correia, Inkoom/Mesquita dão garantias, todos eles a evoluírem a bom ritmo, saem beneficiados e com possibilidades de tornar o jogo pelas laterais mais útil, mais ofensivo e rápido, com maior capacidade de alargar o último terço.
-  A simples mudança dos alas fazem com que se altere a postura da equipa, sem grande mexidas na estrutura. Luisinho tem um excelente jogo interior, do lado contrário estamos a poucas semanas de ter um reforço com idênticas caraterísticas, Bukia. Renato foi testado nessas funções, será ainda cedo para se perceber qual pode ser o seu contributo. Ou seja, temos médios ala com capacidade de dar sequência ao nosso jogo nestes moldes, ao mesmo tempo que priviligiam os laterais. Claro, dúvidas acerca da rentabilidade de Luisinho quando comparado com a função de extremo, mais solto, a pegar na bola mais perto da área adversária, menos exigente do ponto de vista físico.
- Zé tornou-se, em definitivo, num bom avançado (digamos, não só um bom extremo), podendo fazer boa dupla com Uchebo. Assim, jogando os dois no meio poderemos tirar vantagens que até aqui seria bem mais difícil.


Independentemente do esquema tático, importante é a dinâmica que a equipa consegue mediante a disposição de determinados jogadores. Falta saber como vamos evoluir e se é mesmo para manter este tipo de abordagem. Na época passada, recordo que houve um momento idêntico a este, um tipo de 'reset', prioridade à consistência defensiva e trancas à porta, para depois se fazer crescer o nosso jogo e mentalidade da equipa, evoluindo para patamares que nos permitiram alcançar os objetivos com normalidade. Veremos se estamos mediante algo do género.
De salientar que nos três jogos em que adotamos esta estratégia, em todos eles alteramos para o esquema habitual, com a entrada de Tengarrinha ou Carvalho, os médios com maior capacidade de circulação e posse. Veremos também se evoluímos com a entrada de um deles para a dupla de médios à frente da defesa, ou se voltamos ao uso habitual do trio no meio campo.


A confiança é que tem tudo para se manter como até aqui, não se tivesse completado esta semana três anos sob o comando técnico de Petit. Já sabíamos que não ia ser fácil, todos devem ter noção que muitas das dificuldades com que nos deparamos no passado recente se mantêm.
A atitude, garra e postura dos nossos rapazes tem sido exemplar (vá, querendo esquecer um pouco Loures) e, desde que assim se mantenha, acredito que temos todas as condições para levar de vencida os próximos desafios. Nada fáceis, convenhamos, a estabilidade e entrosamento demoram o seu tempo, mas 'tamos cá.


Força Boavista!

Sem comentários:

Enviar um comentário