Num mar de desafios, existem aqueles que se destacam como faróis de esperança e resistência quando a névoa está mais cerrada. Armando Teixeira, conhecido carinhosamente por nós como Petit, é um desses faróis que brilhou intensamente no nosso Boavista FC. Com a recente e dolorosa notícia da sua saída, é imperativo que nos voltemos para o legado que ele deixa para trás – um legado de paixão, dedicação e resiliência.
Petit não foi apenas um treinador; foi um guardião da identidade axadrezada, um homem cuja história se entrelaça com a essência do nosso clube, quer como jogador de formação, campeão nacional, treinador por várias vezes quando mais precisávamos dele. Ele soube, com raça, capturar o espírito boavisteiro e traduzi-lo em atuações que, por vezes, desafiaram as expectativas. No início desta temporada, sob a sua batuta, a equipa emergiu como um gladiador improvável, dominando o arranque da Liga de jogo com quatro vitórias e um empate, incutindo uma onda de optimismo e incredibilidade entre não só os Boavisteiros mas todos os que viam o Boavista jogar.
Apesar disso, mesmo a mais forte das chamas enfrenta dificuldades para arder perante os vendavais. O nosso Boavista, com o peso dos erros e dívidas acumulados dos últimos 20 anos, tem navegado por águas muito turbulentas. Salários em atraso tornaram-se uma mancha na gestão do clube, uma sombra que paira sobre a moral dos jogadores e mancha a reputação do nosso emblema. A incapacidade em assegurar contratações vitais devido aos castigos da FIFA e em manter a estabilidade financeira e operacional do clube tem sido, indubitavelmente, um calcanhar de Aquiles na nossa jornada.
Enquanto Petit manobrava com destreza num campo minado de limitações, a
gestão do clube mostrava-se incapaz de fornecer as ferramentas
necessárias para sua missão, deixando o seu talento e visão estratégica
sem o suporte vital para triunfar. É uma verdadeira tragédia grega ver um homem de tal estatura no clube e na nossa história ser deixado à mercê de uma tormenta gerada por aqueles que deveriam ser os seus maiores aliados. As recentes derrotas, que culminaram na sua saída, não foram simples tropeços desportivos, mas sim o resultado de um clube que parece ter perdido o norte há já algum tempo.
No meio destes enormes desafios, a gratidão que sentimos por Petit não pode ser subestimada. Ele permaneceu firme, defendendo o clube e os seus jogadores com uma bravura que só pode ser comparada à dos grandes nomes que adornam a nossa rica história. A sua saída, um reflexo da ruptura com uma gestão (noticiada nos vários órgãos de comunicação social) que se desviou dos nossos valores fundamentais, é uma chamada de atenção que não podemos ignorar.
Neste momento de reflexão, é essencial olharmos para dentro e questionarmos: onde queremos que o nosso Boavista esteja? Petit deu-nos
uma visão do que é possível quando a paixão se alia à competência, e
agora, cabe a nós, adeptos, assegurarmos que o seu legado não seja em
vão. Devemos procurar uma solução na gestão desportiva que espelhe o
compromisso e a integridade que Petit personificou.
A mudança é, muitas vezes, um caminho árduo e repleto de incertezas, mas é um caminho necessário. Como comunidade, somos chamados a elevar a nossa voz – não num eco de divisão, mas num coro unificado por uma gestão transparente, estratégica e respeitosa da nossa herança boavisteira. A história do Boavista é escrita por todos nós, e juntos, temos o poder e a responsabilidade de direcionar o próximo capítulo.
Agora, enfrentamos a realidade da partida de Petit. É um momento que nos obriga a olhar além do campo e a focar naquilo que faz de um clube uma instituição: a sua liderança. Os nossos apelos são diretos a Vítor Murta e à administração: é tempo de mudança, de uma nova visão que resgate a essência do nosso Boavista.
A paixão pelo Boavista não conhece fronteiras, nem se confina ao
relvado. Vive, existe e resiste no pulsar de todos nós Boavisteiros que, com fervor, apoiam as várias
modalidades desportivas e educativas que formam jovens e adultos no
Norte do país. Esta paixão alimenta o futebol, mas também inspira a
formação integral de atletas e a contribuição social em toda a cidade do
Porto. Este é o momento para que essa paixão multifacetada se traduza
em ação concreta e transformadora, abraçando não só o futebol mas todas
as vertentes que constituem o nosso grande clube. Devemos exigir uma liderança que se alinhe com nossas expectativas e valores – uma gestão que não apenas aspire ao sucesso, mas que também crie as condições para que ele seja alcançado.
A saída de Petit é, em muitos aspetos, um reflexo da incapacidade da administração em oferecer suporte adequado, por virtude do nó com que o Boavista vive ao pescoço. Uma parte resultante de uma herança muito pesada, mas outra parte também resultante de erros recentes. É um testemunho das dificuldades enfrentadas, das promessas não cumpridas e dos sonhos desfeitos. Contudo, no meio a esta tempestade, temos a oportunidade de nos unirmos por um Boavista mais forte e estável.
As histórias de sucesso não são apenas escritas pelos vencedores, mas também pelos lutadores. E Petit foi, sem dúvida, ambos: um lutador e um vencedor. Obrigado, Petit, por cada batalha enfrentada, por cada obstáculo superado, e por cada momento de alegria proporcionado a nós, adeptos do Boavista. A tua história no Boavista servirá como inspiração para lutarmos por um futuro mais brilhante para o clube que amamos.
Chegou o momento de agir. O momento é agora para uma reflexão ponderada e construtiva. Convido
todos os Boavisteiros a se expressarem de forma respeitosa e produtiva –
participando ativamente nas discussões do clube, compartilhando opiniões
informadas e construtivas nos vários canais do clube, nas assembleias gerais, plataformas digitais, e contribuindo para
um diálogo que busque soluções positivas.
Juntos, com responsabilidade e
respeito, podemos influenciar o futuro do Boavista e ajudar a guiar
nosso clube em direção a uma era de sucesso e estabilidade.
A história do Boavista FC não será definida por este momento de adversidade, mas sim por como respondemos a estes momentos. Unidos, com a memória dos feitos de pessoas como Petit a guiar-nos, podemos iniciar o processo de renovação e ressurgimento. Agora é a hora de honrarmos o passado e de construirmos o futuro – um futuro digno do nosso clube e da sua história.
O meu muito obrigado por tudo Petit, e viva o Boavista FC!