Todos os jogos no nosso Estádio do Bessa, sou confrontado com uma
faixa pendurada na bancada Nascente junto ao Topo Sul que diz simplesmente "Ausentes, Presentes".
Desconheço por completo quem seja o seu autor ou qual seria a mensagem que pretendia passar, mas a cada olhar, sou transportado para
as memórias mais queridas da minha infância, onde o meu pai me levava
a mim e ao meu irmão pela mão, atravessando as portas do nosso Bessa antigo.
Recordo-me do
som ensurdecedor dos adeptos, do cheiro da relva e da emoção palpável no
ar. Mas, acima de tudo, lembro-me de estar ao lado do meu pai, da minha mãe, do meu irmão e do meu avô,
três gerações unidas pelo amor ao Boavista.
Hoje, sou eu que levo o meu pequeno filho ao Bessa. Ele, com os olhos curiosos, faz-me perguntas sobre o Boavista e porque é que gosto tanto do mesmo.
Conto-lhe histórias, tal como o meu pai e avô fizeram comigo, e espero
que um dia ele faça o mesmo com os seus filhos.
Cada um de nós tem as suas memórias únicas ligadas ao Bessa. Há quem se
recorde do vizinho mais velho, que com histórias e relatos apaixonados,
despertou em alguém o fervor pelo Boavista.
Outros lembram-se daquela
amizade inesperada que nasceu nas bancadas, com alguém que se sentava ao
lado ou à frente, com quem se partilharam alegrias, tristezas, vitórias
e derrotas ao longo dos anos, e que, infelizmente, já não se encontra
entre nós.
E há ainda aqueles que foram introduzidos ao clube por amigos
ou colegas de escola, criando laços que vão além do futebol.
O tempo, implacável como é, levou muitos de nós. A dor da sua ausência é
agravada sempre que entro no Bessa e sinto o vazio dos seus lugares ao
meu lado. No entanto, eles nunca me deixaram verdadeiramente. Estão
presentes em cada cântico e em cada aplauso, em cada lágrima derramada
pelo nosso clube.
Inspirado pela iniciativa do Union Berlin quando foram promovidos, proponho que criemos a nossa
própria tradição.
Novembro é tradicionalmente um mês de reflexão e memória. Em Portugal, o Dia de Todos os Santos, celebrado a 1 de Novembro, é uma data onde recordamos e homenageamos aqueles que já partiram. E que melhor altura para começarmos esta tradição no Boavista? Uma tradição que não só honra a memória dos que já partiram, mas também reforça os laços da comunidade boavisteira.
As tradições têm o poder de unir as pessoas, de criar um sentimento de pertença e de continuidade. No mundo do futebol, onde as emoções estão sempre à flor da pele, as tradições adquirem uma importância ainda maior. Elas são uma ponte entre o passado, o presente e o futuro, e ajudam a definir a identidade de um clube.
Imagino um sistema simples: durante uma semana
específica, os sócios poderiam dirigir-se à secretaria do clube com uma
fotografia de um ente querido Boavisteiro que já partiu, seja ele um
familiar, um amigo, um vizinho ou até mesmo aquele desconhecido com quem
partilhávamos o amor pelo clube. Com uma contribuição simbólica de 5
euros, essa fotografia seria transformada num mini cartaz a preto e
branco, dentro das medidas regulamentares. O Boavista, em parceria com uma gráfica local, produziria estes
cartazes e, no dia do jogo, cada sócio poderia levantar o cartaz e
levá-lo para a bancada.
O dinheiro arrecadado poderia ser usado para cobrir os custos de
produção e qualquer excedente poderia ser doado a uma instituição de
caridade à escolha do clube.
No dia do jogo, o Bessa estaria repleto de rostos familiares, uma
multidão de ausentes que, através desta homenagem, estariam mais
presentes do que nunca. Seria uma forma poderosa de mostrar que, no
Boavista, ninguém é esquecido. E que o amor pelo nosso clube, tal como o
amor pelos que nos são queridos, é eterno.
Resumo da Proposta:
- Iniciativa "Ausentes, Presentes": Uma homenagem anual aos Boavisteiros que já partiram.
- Entrega de Fotografias: Durante uma semana específica, os sócios/simpatizamentes entregam na secretaria ou via email uma fotografia de um Boavisteiro que já partiu.
- Contribuição Simbólica: 5 euros por fotografia, que serão usados para cobrir os custos de produção.
- Parceria com Gráfica Local: Produção de mini cartazes a preto e branco com o tamanho máximo aprovado pela Liga (deduzo que seja um A4, mas um A3 funcionaria melhor).
- Homenagem no Dia do Jogo (primeiro jogo em casa de Novembro, por exemplo): Os sócios levantam o cartaz antes do apito inicial e levam-no para a bancada.
- Doação a Instituição de Caridade: Qualquer excedente da contribuição será doado a uma instituição à escolha do clube.
Esta é a proposta que faço: a criação de uma tradição anual para garantir que aqueles que amamos, e que nos ensinaram a amar o Boavista,
nunca sejam esquecidos. Porque no Bessa, no nosso coração, eles estão e
estarão sempre... presentes.
#AusentesPresentesBFC