Melhor encontrar nova definição para "bater no fundo" ou "pesadelo". É isto, é esta brutal desilusão depois de mais uma fundamental final perdida. Mais que isso, foi a forma como tal aconteceu, bem diferente das últimas finais, de mais árdua explicação e, claro, incomparavelmente mais difícil de aceitar.
Sejamos sinceros, frios e justos: a todos nos faz desacreditar. Os nossos rapazes desiludiram-nos.
Vamos por partes:
◾ Abordagem arriscada de Jesualdo para o jogo contra o Farense. Claro, convém não esquecer: num plantel como o nosso, duas baixas de titulares (Chidozie e Santos) tem tudo para fazer danos a dobrar. Fica mais difícil colmatar, mais complicado preparar e substituir. Ainda assim... não pode servir de desculpa, parece-me claro.
Tínhamos falado por aqui acerca da grande dúvida para o desafio: quem para substituir os impedidos. Rami estava (ou devia) a 100%, Hamache foi o escolhido para o meio campo. Não está difícil de perceber, até como o próprio Jesualdo reconheceu: não resultou. E arrisco a dizer: foi demasiado arriacado, tinha muito por onde não resultar na prática, por mais que o jogador merecesse a aposta ou desse maior confiança, comparado com outros. Certo que já foi aposta ali mas em contextos diferentes, sempre durante os desafios e em condições bastante específicas e mais favoráveis. Também Sauer já foi ali opção - com resultados aceitáveis - e desde o início das partidas.
Importante frisar: toda a Equipa entrou muito mal em jogo e não só por essa [forçada] alteração.
◾ Aos dez minutos - e depois de percebermos a brutal superioridade dos forasteiros no jogo - já sentíamos necessidade de ajustar taticamente: três centrais sem bola, Hamache na lateral, Paulinho a necessitar de desmultiplicação, Sauer perdido e Javi a esbracejar. Mas os problemas continuavam: imensos espaços no meio campo, dificuldades em lidar com a largura e, principalmente, com a constante superioridade numérica do adversário no espaço curto, com e sem bola. Lance após lance, em busca do prejuízo. E isso está directamente relacionado com a [falhada] estratégia, mas não só. Está sobretudo com a falta de reajustamentos... coletivos, diria. Havia que tentar reagir no campo, tentar reagir à perda de forma mais ativa, de mais iniciativa no que toca a dar linhas de passe na posse 'contralada', mais rápidos e incisivos nas transições. Na pior parte, na primeira, mas também na segunda. De melhor e mais adequada postura tendo em conta o que o momento pedia. Afinal, era mesmo uma final e um jogo decisivo, havia que dar tudo, a bem ou a mal. Não aconteceu, e esteve longe de acontecer.
◾ Diria que inevitável - por todos os motivos conhecidos - a contestação à Equipa técnica. Todos sabíamos que a rédea seria [ainda mais] curta, não interessa agora discutir as razões ou motivações. Mais uma vez, sejamos frios na análise, com a certeza que não haverá alteração no comando nem tal seria sequer questionável neste momento.
Quem nos segue tem concerteza percebido algo comum nas antevisões às partidas: "prioridade e tal, manter a evolução...". A evolução, o crescimento, o qual, muito embora com alguns interregnos pelo meio, era uma evidência. Taticamente mais maduros, coletivamente mais coesos e seguros (em números, melhor momento defensivo da época), individualmente a perceberem-se sinais de evolução em alguns jogadores. Nem é opinião, é facto.
As exibições e resultados falavam por si: melhor fase da época, mesmo que tal não fosse muito difícil.
Nas vitórias e nos pontos importantes, mas também nas derrotas, principalmente as caseiras, não esqueçamos.
E todos sabemos e devemo-nos relembrar das imensas contrariedades - das que não controlamos - que temos sido vítimas.
Podemos, como habitual, apontar para os que menos contribuem e aparecem quase como soluções milagrosas (porque sim, porque tudo seria diferente...), mesmo num magro plantel como o nosso.
Podemos apontar ou questionar (se bem que de forma... abrupta) a confiança do grupo no treinador, no acreditar dos jogadores na capacidade da equipa técnica. Aceite-se, problema usualmente levantado quando os resultados não aparecem e a atitude deixa a desejar, mas se o grupo não confia no Jesualdo Ferreira... vai confiar em quem? No treinador que ainda não conhecem? Na brusca mudança? No empresário? Na Virgem Maria?
◾ Ao rever o jogo, as incidências e o comportamento dos nossos rapazes, faz-nos, inevitavelmente, recuar uns tempos e refletir um pouco sobre o que tem sido a época.
E há uma frase (ou pensamento, várias vezes repetido pelo nosso treinador) que quase instintivamente salta à memória, que é esta: "esperemos que o compromisso dos jogadores esteja, definitivamente, alcançado". Mais ou menos isto.
Ora, se foi alcançado, significa que antes este não estaria em patamares aceitáveis. Concorde-se, tais as evidências de então.
A exibição de domingo fez lembrar essa frase e, provável, não por acaso.
Globalmente, foi essa a ideia: faltou compromisso, faltou perceber e interiorizar a importância do desafio tendo em conta o momento pelo qual a Equipa atravessa. Faltou aquilo que temos realçado e se justifica: União. Confiança. Vontade, a tal que é por onde vamos quando não dá na técnica.
E isso, mais que um dia não, mais que um penalty mal concedido, uma expulsão desnecessária ou um golo cantado falhado, é o que mais custa.
Não sei para os outros, mas para Boavisteiro soa a inaceitável. Soa a corrigir rapidamente.
◾ E não deve haver paninhos quentes nem falinhas mansas, muito menos esquecermos o que sempre sentimos: estaremos juntos com os nossos Rapazes. Os apoiaremos, defenderemos, o mais perto possível e Num só pelo Símbolo de 117 anos de existência.
Mas é preciso que eles também estejam connosco. Com o Símbolo. Que mostrem aquilo que mais nos orgulha e distingue quando a Camisola entra em campo: sangue nos olhos. Vontade e União, por eles, pelo Boavista. Acima de tudo: Compromisso.
Já nem lhes chamaremos finais. Faltam dez momentos. Para nós, Adeptos, momentos de uma vida. É encarar de frente e... lidar. E perceber o peso do presente, por muito que o futuro, para cada um, seja mais ou menos dourado, seja muito ou pouco diferente.
Em mais de meio século, dos 117 anos de História, nunca fomos despromovidos do principal escalão, nem será este ano, acreditamos. Somos Boavista e não nascemos ontem. Resistiremos.
Reflexões sobre tudo o resto, sobre quem fala ou quem não o faz, sobre impedimentos, atitudes ou investimentos, é de refletir mais à frente, porque a prioridade é outra. Como sempre se disse, isso é para quando chegarmos ao fim deste caminho (e sabendo já qual será o próximo).
E sem esquecer: toda a estrutura, tudo que é Boavista, é importante e responsável neste momento.
Força Boavista!