terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Adeus, Vasco


É claro que o tempo de VS no Boavista chegou ao fim. Fazendo fé nas informações e sinais que vão chegando a todos nós, a vontade dos responsáveis continuarem a contar com o treinador parece nula, e já há algum tempo. Entrave à saída será a obrigatória 'marcha-atrás', provavelmente tão complicada quanto a dimensão da aposta que nele foi feita. "Vasco fará grande o Boavista", longe de se imaginar que se tornaria num problema grande para a direção. 

Nunca por aqui se escondeu a admiração pelo seu trabalho e como se acreditava nas suas capacidades, mesmo antes daquela expetativa extra provocada pela grande exibição na primeira aparição da época, vs Tondela. Continuo com a convicção que será um treinador que irá vingar e chegará, naturalmente, a um patamar alto. Mas não agora nem por cá.

Começando pelo início. 

◾ Acrescentaria os primeiros desafios da época àquele jogo de apresentação. Falhamos defensivamente, não ganhamos, mas os sinais foram ótimos. Repito: ótimos, partindo do princípio que os problemas que evidenciamos eram corrigíveis e naturais dado o nosso contexto tão específico. O entrosamento e adaptação dos novos, a consistência coletiva iriam melhorar com o tempo. Em alguns casos, perdemos pontos preciosos por erros individuais, alguns até alheios à Equipa, e com alguma injustiça pelo meio. Como seria se... fosse diferente essa linha por vezes tão tênue entre sucesso ou insucesso? Pedia-se, e bem, tempo. 

◾ Facto: não se evoluiu o esperado. À exceção da única vitória (e exibição), nos jogos seguintes regredimos. E bastante. Claro que as melhorias defensivas traduzidas em números foram evidentes e tiveram relação direta com essa... regressão. Não sofremos golos há quatro desafios e não é por acaso. Vasco tentou, e bem, mudar o paradigma, a abordagem. Mas o custo foi duro e o tempo - tão necessário - não parou, ao contrário da fluidez ofensiva. Pior, em alguns casos: a motivação, a intensidade, a criatividade, até o rendimento invididual pareceram estar... feridas. Junte-se a inexplicável aparente má condição física da Equipa.

◾ A frieza dos números: nove jogos, uma vitória e três derrotas, perto da linha de água. Terceira pior defesa e, como dito, um ataque que só prometeu. Junte-se derrotas com rivais, com custo elevado. Curiosamente, com estes mesmos adversários (trocando Nacional e Farense pelos despromovidos) tínhamos os mesmos pontos na época passada. Se calhar, será mesmo pouco relevante. Talvez.

◾ Discordo da ideia que o plantel não estaria com o treinador. Falhamos na atitude exigida em alguns jogos, sim, mas isso não significa por si só revolta do grupo. Ontem vimos uma Equipa comprometida. Facto. Caso houvesse intenção de 'cama', seria diferente. E não é um jogador saír contrariado que dá ideia do contrário. Oh se fosse...

◾ Culpado mais fácil mas não o único. O plantel é desequilibrado, algumas contratações falharam, outras demoram na adaptação, o risco de mudar 90% do plantel foi enorme. E disso o treinador não tem culpa, apesar de ter que lidar com essas condicionantes. Aconteça o que acontecer, mexer em janeiro será obrigatório, parece-me. A agravar a situação, a falta de controle da direção no que diz respeito à gestão das expetativas. O cenário não era favorável, mas podia-se e devia-se ter feito (ou dito) algo diferente. Quem paga? O do costume...

◾ Pelo contrário, o discurso. Vasco Seabra exagerou a prolongar o discurso que, numa fase inicial da época, fez todo o sentido. Devia, também, ter adaptado aquilo que queria transmitir. Foi, e bem, um dos principais pontos de crítica. Mesmo na leitura dos desafios e ao não assumir os defeitos e eventuais culpas. Mais realismo, talvez, mesmo que não fosse colher os frutos no imediato. E mensagens para o plantel, zero, quando até parecia necessário 'abanar' as hostes. Ficamos pelas atitudes (como no caso Juwara e a substituição aos 92'), mas foi curto.

◾ Dou enorme valor à exigência que nós, Adeptos, fazemos a quem nos representa. É e será, para mim, umas das nossas imagens de marca. Daí que a atitude, a 'mística', o sentimento Boavista em campo, e neste caso a falta desses atributos, seja um aspeto gravíssimo e que, obrigatoriamente, terá que pesar em qualquer análise. Faltamos nós no estádio e não sabemos como seriam as coisas, mas certamente seriam diferentes. Talvez já nem estivessemos a discutir uma chicotada.
Quem não conseguir lidar com esta pressão extra estará sempre com um pé mais perto da porta de saída. E o Vasco, talvez pela inexperiência, deu mostras disso mesmo. (sendo verdade que muitas vezes muitos de nós se precipitam, principalmente no tratamento aos treinadores. Quem não se lembra dos episódios com Pacheco e mesmo... Jorge Simão?)

Resumindo, demasiadas condicionantes, muitos problemas para serem resolvidos de forma célere e eficaz, algo que não foi conseguido. A piorar, dá ideia que o apoio da direção cedo se fez desaparer. Ou enfraqueceu, pelo menos, e isso para o grupo (e é natural que o tenha sentido), ainda para mais com pouco tempo de Boavista, não deve ter trazido nada de positivo.

Boa sorte para o futuro, menos contra nós. E venha o próximo, que tenha mais sorte e que saibamos dele tratar melhor.


Força Boavista!

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