Deixamos a linha de água à quarta jornada, na histórica vitória perante a Académica, arrancando aí para a nossa melhor série do campeonato, sete pontos em três jogos. Algo parecido só recentemente, na primeira vitória fora (à sétima tentativa) seguido da vitória com o Arouca. Olhando para a tabela, mérito enorme para a nossa eficácia, não do ponto (temos apenas um empate), mas dos três pontos. 'Finais' foram todas ganhas.
Pior série tem início em Guimarães, resumindo-se a três pontos conquistados (Penafiel) em dezoito possíveis. Ainda assim, nunca estivemos mais de três jogos sem vencer.
Primeiro ponto: estávamos (para muitos ainda continuamos) no primeiro lugar de candidatos à descida devido ao baixo nível do plantel e equipa técnica. A pouca experiência e o salto de duas categorias num só ano são os principais motivos apontados por tudo que é comentador/jornalista/opinador desportivo. Junte-se ainda o asco que muito revelam e a vontade não camuflada de nos ver de novo por baixo. Por isso, o primeiro ponto é também o de maior realce: 16 pontos, 13º lugar. União, atitude, humildade, apoio, Cultura Axadrezada. Boavista.
Julgo que há a consciência generalizada, pela nossa parte, adeptos, das dificuldades desta temporada. Sobretudo, para formar um plantel do zero com pouquíssimos recursos (mesmo comparando com as equipas com os mesmos objetivos que nós), para unir um grupo de jogadores a trabalharem juntos pela primeira vez, para formar uma equipa competitiva. Por isso faz todo o sentido dar mais tempo que o normal à equipa, como o que foi pedido.
Mas isto é ponto assente. Não pode nem deve ser pedra de arremesso (nem servir de desculpa a tudo que possa ser melhorado) a quem critica ou não concorda com algo que se passa ou com opções que se vão tomando. Por outro lado, deve controlar e travar um pouco a crítica exacerbada e destrutiva que se vai vendo por aí, por vezes tão descabida e tão pouco consciente do que é, realmente, arrancar para uma temporada desta exigência sem uma equipa previamente formada e minimamente evoluída.
E começamos por aí, pela evolução da equipa. Evolução individual também como prioridade, ora pela idade e inexperiência de alguns, ora pela importância no próprio coletivo. Então, como fazer crescer um grupo de jogadores como estes que temos? Como lhes dar experiência e ritmo de jogo? Alinhavar desde logo um onze tipo? Ir testando soluções e posições, dando competição aos jogadores, tirar o máximo partido das características de cada um, adaptar o onze inicial às caraterísticas do jogo?
Somos a equipa, em todo o campeonato, que mais jogadores utilizou e a que mais distribuiu os minutos pela maioria deles. Terá sido uma estratégia para o primeiro terço da época, talvez o mais indicado dadas as condições tão específicas com que formamos o plantel. Feio à vista, mas útil em termos de preparação a médio prazo. Desde forma física até intensidade de jogo de alguns, muita coisa tem melhorado desde que começamos a temporada. Em parte, graças a essa forma de trabalhar o grupo. Atrapalhará alguns aspetos na evolução coletiva, na evolução do onze, digamos assim? Também me parece que sim, e tenho até a ideia que foi um dos motivos para alguma estagnação no crescimento da equipa em certos momentos nesta primeira parte da temporada.
Olho para a forma como jogamos e o que mais me preocupa é a consistência. A insegurança, a permissividade que denotamos, as facilidades que muitas vezes concedemos aos adversários. O mau posicionamento na ocupação de espaços, a falta de compensação defensiva, o 'bloco' que vezes a mais não funciona. Erros, erros atrás de erros, como muitas vezes diz o treinador. Próprio de quem está a crescer, verdade, mas mais que a tempo de corrigir e melhorar alguns desses aspetos.
Volto a dizê-lo: no início da época não estaria à espera de todos estes problemas no setor defensivo. Até olhando aos primeiros sinais: Lucas tem caraterísticas interessantes para um central (estaríamos nós mal habituados?), Ervões parecia ter tudo para ser o 'patrão' que precisavamos, Sampaio desde muito cedo se revelou um promissor defesa. Santos já todos conhecíamos. Na direita, o polivalente Beckeles e Dias, que vinha rotulado de jogador com experiência; do lado contrário, Correia nunca enganou, Afonso um dos que mais confiança se depositava.
O que temos hoje?
Surpreendeu a maior parte dos adeptos a continuidade de Carlos Santos, principalmente pela lentidão que lhe é característica. Evoluíu bastante se olharmos ao que era quando cá chegou. Melhor tempo de entrada à bola, mais incisivo, consegue não se expôr (no que depende de si...) em demasia ao principal problema, a velocidade. Mas não chega. Até admito que, em certo tipo de jogos, seja um jogador útil. Não tenho dúvidas, assim como não as tenho em relação a ser um bom jogador de balneário, bom para o grupo. Mas o problema é mesmo esse: não é para a maioria dos jogos, não é para se formar uma defesa consistente e, partindo daí, alinhavar o resto da equipa.
O problema adensa-se quando temos um puto de vinte anos como companheiro de setor. Promissor, não duvido. Mas puto, e transformado em chefão da defesa, com a experiência que uma dezena de jogos lhe conferem. Sampaio tem tudo para ser um grande valor nosso, mas tenho para mim que o ideal para ele e para nós, seria tê-lo emprestado a uma segunda liga e tê-lo prontinho para o onze na próxima temporada. Bem sei que soa descabido (e é, olhando ao que precisamos no presente), mas é só para perceberem do que eu acho que é feita a nossa defesa. Lentidão e inexperiência. Têm a palavra Lucas e Ervões e, claro, o treinador, responsável na sua evolução. E aqui mais alguém tem a palavra, a direção. É evidente que precisamos de um defesa central, e para Petit o pedir é porque é mesmo fundamental.
Na direita, outro foco de contestação: Dias/Beckeles. Dias é o lateral mais experiente que temos, o que melhor fecha dentro, o que mais apoio dá ao central do seu lado (temos bons exemplos nestes dois últimos desafios) e este será um dos motivos porque é aposta na maioria dos jogos. Há ainda outra condicionante, a derivação do hondurenho para zonas mais adiantadas. Beckeles, quando tivermos a nossa dupla de centrais mais atinada, poderá ser opção mais vezes na lateral, julgo eu. Mais possante, melhor técnica, com mais possibilidades de dar maior profundidade à lateral direita.
Na esquerda, tivemos dois galos. Primeiro, a lesão de Correia; depois, a aposta falhada em Julián (apesar das boas intenções do argentino) ou o tempo que foi preciso para Afonso crescer e ganhar de novo confiança (ou músculo?) depois da negra exibição na sua estreia esta temporada.
Texto vai mais longo que o previsto; amanhã, reflexão sobre o meio campo e ataque.
Força Boavista!
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