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Não está fácil, como era previsível há uns meses atrás. Comparando com as restantes 4 temporadas desde o regresso, só em 15/16 o registo era pior: apenas 3 vitórias, menos uma que atualmente e abaixo da linha de água. Na altura acordamos a tempo: mudamos de treinador, reforçamos bem no mercado de inverno e conseguimos alcançar uma dinâmica que nos tirou dos lugares de descida.
Mas então que motivos para este tão baixo rendimento, ainda para mais numa temporada que tivemos imenso tempo para preparar, que era tida como mais um capítulo no dito crescimento sustentado? O treinador? Os jogadores? Os Adeptos? A estrutura? Na minha opinião: o projeto (ou mesmo a falta dele). "Crescimento sustentado" é das expressões mais bem conseguidas pelos nossos responsáveis e também das mais enigmáticas e problemáticas, das mais 'non sense'; ou seja, entra bem no ouvido, dá jeito nas discussões e fica bem nos jornais, mas o conteúdo é zero ou perto disso. É bastante provável que os problemas resultem do caos financeiro que vivemos, mas é um facto que estamos ainda longe de podermos usufruir de alguma estabilidade nesse capítulo com impacto positivo na Equipa, se bem que seja louvável a intenção de dar imagem do contrário. No final, isso paga-se e não sai nada barato.
Comecemos pelo treinador. Ao contratarmos Jorge Simão não contratamos só um treinador, compramos uma ideia. Sim, é assim que se cresce no actual Futebol. Crescemos na mentalidade, evoluímos no jogo. Podemos não ganhar a tudo e todos, mas começamos a desbravar um caminho, a construir uma identidade, mantendo os apelos à raça e atitude mas com a intenção de subir um pouco em todas as outras componentes do jogo, que é o que realmente faz a difrerença. Deveria ser esta a leitura depois de certa a permanência do técnico no início da temporada.
Primeiros revés: a formação do plantel. E aqui a questão central: formamos o plantel tendo em conta a ideia de jogo do treinador ou escolhe-se o treinador que melhor se adapta às caraterísticas dos jogadores? Ideia que fica: faz-se o plantel que se puder, da forma como se conseguir, com uma boa dose de fé que não dá para mais. São precisos meses para se preparar minimamente os centrais para a nossa Liga? Força, tem que haver tempo. Não são os jogadores do setor defensivo os ideais para aquilo que se pretende? Paciência, não dá para saír a jogar temos lá o Neris para bater bola. Têm os jogadores de meio campo as caraterísticas para colocar em prática aquilo que se pretende para a Equipa? Não, mas tenta-se com estes, muda-se se fôr preciso, tenta-se fazer com que o Idris consiga fazer dois passes seguidos (e até já faz mais!). Trabalha-se, muda-se para algo mais condizente ou tenta-se evoluir para um patamar aceitável, mesmo mantendo um mínimo de fidelidade à ideia.
A questão: deveríamos mudar a mentalidade e adaptar o nosso estilo de jogo a este plantel? Provável que sim, aceito essa opinião, se bem que considere de resposta bastante difícil. Mas, para isso, o primeiro erro é a escolha do treinador: um qualquer Inácio serviria.
Vamos ao plantel e recordar o que se escreveu aqui no início da época e, acredito, então a opinião da maior parte de nós.
Confirmaram-se os problemas no setor defensivo. Apetece perguntar: era assim tão difícil perceber que o resultado seria, muito provavelmente, este? Raphael Silva, Neris e meio Sparagna, ainda houve discernimento (e coragem!) para promover um jovem de 17 anos ao plantel sénior, porque assim foi preciso. Gonçalo é de um valor inquestionável, mas não deixa de ser um jogador com idade de primeiro ano de junior, a fazer os seus primeiros jogos de sénior num contexto exigente como uma Primeira Liga. Depois, claro, paga-se a fatura, por muito bom (e é!) que seja o trabalho feito com os jogadores.
Havia dúvidas naturais a respeito da condição do Edu Machado, apostou-se num jovem da formação com passado como médio para alternativa. Idêntico, mas pior, do lado contrário, com Talocha e... Samú.
Idris e Espinho não vão para novos, seria preciso segurar um valor como David Simão, seria urgente encontrar alternativas. Arriscou-se com um jogador que efetuou 16 jogos nos últimos 2 anos e meio, com um outro com vasta experiência na divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto, e contratou-se Rafael Costa, um bom valor ex-Moreirense. Compôs-se o ramalhete com a inclusão no plantel de um médio já por duas vezes dispensado. Tarefa fácil? Deixo ao critério de cada um.
No ataque, o mesmo diapasão e ainda mais fé que as coisas vão correr pelo melhor: acreditar que o ponta de lança vai ser goleador, como que a dar sequência aos 12 golos apontados nos últimos três anos, na Malásia, em Malta e no Desportivo das Aves; acreditar que Claro e Índio são opções válidas no imediato, após não o serem num recém despromovido, ou ainda perceber que o maior problema do Koneh está longe de ser cardíaco. Rafa Lopes sim, destoa dos demais, mesmo sem deslumbrar ou incapaz de resolver por si só todos os problemas que nos deparamos na finalização. Ah!, e mais uma vez para compôr: Ronald, recusando-me a referir Yusu. Duas semanitas, né? Nem é preciso, Rochinha e Mateus resolvem. Fé.
Confuso este parágrafo sobre o plantel? Compreensível, não é para menos.
Presentemente e julgando com os dados que temos: Rochinha é uma autêntica incógnita perante os últimos acontecimentos; David Simão e Gonçalo (ao que tudo indica) proporcionarão um bom encaixe financeiro.
Simples: continuar a acreditar no valor do treinador e proporcionar-lhe mais e melhores valores no plantel. Reforços, mas a sério, do género dos que as equipas nossas concorrentes estão a fazer.
Complicado: contratar um outro treinador (o Mota está livre e talvez seja o melhor para quem quer mudar!) e, igualmente, fortalecer a equipa e opções.
Última nota para nós, Adeptos. Quando perdemos há falta de atitude, de raça e querer. Ganhando, já os ordenados estão em dia e a união em prol dos jogadores merece aplausos, cânticos e agradecimentos.
Discordo disto.
Pergunto: onde entra o fator qualidade aqui? A insuficiência? Os erros da Equipa técnica?
O que assobiamos? A falta de entrega ou a falta de qualidade? E para quem deve ser direcionado esse desagrado? Só para os jogadores, como um todo? Ou para os verdadeiros responsáveis?
Em suma: dois, três, cinco, os reforços que forem possíveis, mas que venham e que sejam isso mesmo: reforços. Que acrescentem qualidade no imediato.
E não, a malta não está para comer sono às colheres, o mal está identificado e não é o treinador, como alguns querem fazer crer. É o plano, é o projeto, é o que queiram chamar.
Força Boavista!
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