terça-feira, 17 de maio de 2016

Venha a Próxima



Difícil, muito difícil, como o cenário negro no final da primeira volta fazia prever e, na mesma medida, imensamente saboroso, pelo estado de descrença vivido na altura por, arrisco a dizer, todos nós. De medo até, olhando também aos seis pontos abaixo da linha de água. 

E o primeiro passo é perceber aquilo que não nos pode passar ao lado: globalmente - e conseguindo, com todo o mérito, o objetivo principal - falhamos no essencial, o de fazer uma temporada tranquila e estável, de crescimento e evolução. Muito do que conseguimos fazer pode e deve ser aproveitado no futuro próximo (como por exemplo a Mística, meus amigos, a Mística dentro e fora do campo...), mas todos os tiros nos pés que se deram no planeamento da época, e se foram dando ao longo da primeira parte desta, deverão ser, no mínimo, alvo de reflexão (as alterações de janeiro na SAD fazem crer isso mesmo...). Há episódios... irrepetíveis.
Já sabemos que as condicionantes eram muitas, os argumentos para nos mexermos no mercado continuaram a ser parcos, mas houve a sensação de algum comodismo, um aparente excesso de confiança de que as coisas iriam acabar por correr bem, nem que fosse somente na raça e na luta, tal como no ano zero. E pouco se apoiou quem se devia apoiar, quando começaram a haver sinais que teria que haver mais que um murro na mesa.
Repito, foi mau demais, desde a desorganização até às decisões difíceis de compreender, passando pelas estranhas declarações dos responsáveis máximos do Clube. Ou da SAD.

Chegamos aqui sãos e salvos porque corrigimos, soubemos-nos reerguer e unir. Como nunca. Como poucos. 


Vamos então debitar sobre a segunda metade da época. A da recuperação. A da fantástica recuperação, depois de igualarmos o nosso pior registo de sempre no Campeonato principal
Curioso que é uma derrota, amarga e imensamente custosa, que marca o início da reviravolta, quando já eramos alvo de cerimónias fúnebres da opinião pública desportiva: o jogo da Taça, com o porto. Todos juntos, naqueles 10 segundos de união perto do banco. Todos juntos, naquela fantástica reação depois do penalty falhado pelo nosso miúdo. Todos juntos, em toda aquela crença perante o Vitória de Setúbal.  A partir daí nunca nos desunimos, mesmo perante as dificuldades. Além do orgulho que toca todos nós, isto foi fundamental.

Antes disso, a troca de treinadores, à 11ª jornada, depois da melhor meia-exibição da época, ante os vitorianos. falamos aqui do Petit, no momento da sua saída, sendo que o principal problema, como dito na altura, não começava nem acabava no nosso treinador, como aliás se constatou nos tempos seguintes à sua saída. 
Sanchez, enquanto treinador, chegou como desconhecido. Claro que todos lhe reconhecíamos a Mística, mas os primeiros tempos assustaram. O habitual ar puro que uma equipa costuma respirar aquando da troca de treinador durou três desafios: uma injusta derrota em Arouca, um empate caseiro com o Estoril e uma vitória tangencial para a Taça da Liga frente a uma poupada Académica. A partir daí, olhando aos resultados e exibições, voltaram os momentos de pânico, receio e desconfiança acerca do treinador. Talvez injusto, devo admitir. Má abordagem no Restelo, péssima no Bessa perante o Moreirense, cinco derrotas em outros tantos jogos, três deles contra concorrentes diretos. Compreensíveis dúvidas acerca da capacidade do novo líder, naquele que foi - podemos agora dizer - o tempo de adaptação.

E a recuperação tem duas fases. A primeira, talvez a mais importante, precisamente no início da segunda volta: onze pontos nos primeiros cinco desafios, mais do que em toda a primeira volta. Foi o tempo da reação e união, do grito de revolta do grupo, da raça à Boavista. A par do tempo da obrigatória limpeza e dos fundamentais reforços, não esquecer. 
Espetamos quatro à pior equipa da Liga, fomos vencer ao último classificado (então condenado...), e arrecadamos preciosos pontos com equipas superiores (vitória em Paços e empate caseiro com o Braga), antes de segurarmos a posição frente ao concorrente direto, a Académica. Mais que a qualidade das exibições, houve atitude e sinais inequívocos de que a Equipa seria capaz. E posto isto, o principal: acontecesse o que acontecesse, os Adeptos estariam sempre, mas sempre, com a Equipa.

Seguiram-se duas duras derrotas nas importantes 'finais' no Bessa, por culpa própria mas difíceis de engolir, perante Nacional e Rio Ave. Mas também aí crescemos. Nós Adeptos, jogadores e, sobretudo, Sanchez. A partir deste momento deixou de haver o dedo do treinador, passou a ser um trabalhinho com ambas as mãos. Mostrou, sobretudo, não ser teimoso, moldando e evoluíndo a equipa tendo em conta as opções ao seu dispôr. Voltou, como na época passada, a chamada 'eficácia do ponto'.

Na Madeira frente ao Marítimo, acertamos, em definitivo, as agulhas. A equipa, o onze, a mentalidade
- conseguimos, finalmente, acertar com a defesa (Henrique e Afonso de regresso após paragens, juntando-se ao patrão Vinicius)
- reorganizamos o meio campo, com a inclusão de Tahar, fazendo dupla com Idris. Aymen fêz crescer imenso o nosso jogo. Depois de Rúben, o mais importante reforço. Igualmente intenso na luta pela bola e cumpridor na hora de defender, foi com bola que se diferenciou comparando com as outras opções. Idris não precisou mais de levar bola numa primeira fase de construção, havia Tahar atrás dele. Rúben, Carvalho e Renato não estavam mais desapoiados, havia Tahar perto deles. A Equipa desequilibrou-se muito menos vezez aquando da perda de bola. 
- a par da dupla, Carvalho agarrou em definitivo o lugar. Longe de ser um extremo, foi pelo equilíbrio que deu à equipa que se tornou peça importante. Muito mais médio interior que o do lado oposto (talvez houvesse a intenção de aproveitar a vocação ofensiva de Afonso), mas igualmente forte taticamente e com capacidade de tanto aparecer na frente como ajudar a dupla de meio campo.
- o regresso do goleador, que o foi: Zé. Iriberri não foi matador, Zé Manel aproveitou e tornou-se peça vital com os seus cinco golos. 
- taticamente, fomos crescendo até este jogo. Deixamos experiências e losangos, acertamos na forma de defender e de nos desdobrarmos para o ataque. Sem bola, adotamos o quatro em linha no meio campo (em particular evidência Renato Santos, neste aspeto), deixando uma dupla como homens mais ofensivos. Com bola, mesmo nunca deixando de evidenciar dificuldades no último terço, revelamos notável evolução na circulação de bola, tendo em Rúben o nosso expoente máximo

Quatro a zero na Madeira, sendo que o primeiro golo foi marcado cá, no Sá Carneiro. Não tenho dúvidas, foi aí que começamos a vencer esse jogo e a cimentar a nossa permanência. Impressionante, o exemplo da importância que nós, Adeptos, tivemos nesta recuperação.

A partir daqui, todos sentimos que seríamos capazes e que todo e qualquer ponto seria de ouro (noutro moldes, voltou a 'eficácia do ponto', um pouco à semelhança da época passada).
Excelente exibição perante o estarola vermelho, consistência em Guimarães, Arouca e Moreira, cheque-mate com o Belém, no Bessa.


Próximos dias, muito para falar e acabar com o delay aqui do blogue. E, claro, novidades não devem faltar.

Abraços, parabéns a todos os fantásticos Adeptos. Força Boavista!  

 

3 comentários:

  1. Boa crónica apesar de cada vez menos frequentes. Espero que regresse em força na próxima época.
    Entretanto deixo-lhe uma dupla (má) noticia para refletir sobre a nova época... http://pt.blastingnews.com/futebol/2016/05/sanchez-nao-continua-no-boavista-00924811.html

    Saudações axadrezadas.

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    1. Não acredito nessa notícia. Sendo possível a saída do Sanchez, não considero sequer hipótese o Sá Pinto. Vamos lá ver...

      Abraço

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  2. Uma boa crónica. Mas acima de tudo, mais que a mudança na estrutura do futebol, foram os adeptos que mantiveram o Boavista na Liga. Vou até mais longe, desde que caímos administrativamente, somos nós, que temos mantido o clube vivo. Claro que queremos mais, mas temos noção do que somos. Não pedimos o que não temos. Exigimos o suor da camisola. O respeito pelo xadrez que carregam no peito. Espero que a SAD leia o blog e os comentários: Sá Pinto nunca!!!
    Boavista Sempre...

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